Lugar de Mulher é Também no Hip Hop

Esse foi o título do seminário que aconteceu nos dias 14 e 15 de agosto de 2010 na cidade de Salvador, com o objetivo de reunir mulheres do hip hop soteropolitano para pautar, discutir e construir mecanismos de legitimação, profissionalização e o fortalecimento das mulheres do movimento hip hop local.

O primeiro bate-papo trouxe um breve histórico sobre a atuação das mulheres no hip hop baiano e a sua cena atual. Tivemos a colaboração de Dina Lopes, uma das primeiras mulheres na cena do hip hop de Salvador, Simone Gonçalves (Negramone), Integrante do grupo de rap Munegrale e do Núcleo de Mulheres da Rede Aiyê Hip Hop, um importante espaço que possibilitou a realização de três encontros estaduais de gênero e hip hop no estado da Bahia, e da inclusão da pauta de gênero no hip hop local.
Dina, em sua fala, trouxe o grau de importância que tem esse movimento de mulheres em um espaço tão masculinizado. Falou também do hip hop como um instrumento de fortalecimento de nossas identidades, em especial das mulheres negras, e de como esse pode e deve ser utilizado na construção da auto-estima e no empoderamento da mulher nos diferentes espaços.

Simone trouxe a sua experiência, em uma apresentação de slides mostrou momentos de construção das mulheres do h2 baiano fazendo uma retrospectivas das ações desenvolvidas, e propondo outras ações para a continuação da atuação dessas mulheres no H2 baiano. Assim também como demarcou a importância do hip hop como um elemento de influencias positivas em sua vida e de muitos jovens homens e mulheres. Esse bate-papo foi enriquecido com a participação ativa das mulheres e dos homens presentes, que em sua maioria trouxe a importância de espaços como aquele para a legitimação da atuação da mulher em outros espaços.

Após o almoço, tivemos uma dinâmica de aquecimento, desenvolvida por Simone Gonçalves que teve como objetivo, alcançado, de despertar nas participantes a necessidade de um posicionamento diante às imposições sociais. Em seguida, iniciamos o segundo bate-papo, intitulado: “A importância da profissionalização dos 4 elementos do hip hop pelas mulheres”. Coma a contribuição de Dj Bandido, Mônica Reis (Graffiteira) da B.girl Tina B.

Dj Bandido trouxe um pouco da sua experiência desde quando iniciou como dj no hip hop, e falou também sobre a importância do crescimento profissional o que envolve sustentabilidade, e das mulheres demarcar o seu espaço, saindo assim da tão imposta sombra dos homens, principalmente no hip hop. Falou também como a sua experiência como pai de uma menina, está o ajudando a entender o universo feminino. Ressaltou a maneira de como a mulher é tratada pela sociedade, ou como “ela se deixa ser tratada”, e chama a atenção para o cárcere “invisível” que proporciona o não desenvolvimento de mulheres em diferentes espaços, especialmente dentro do hip hop, trazendo um exemplo, de uma mc muito talentosa que tem o sues disco gravados, porém não foram lançados ainda por conta da sua relação conjugal.  

A B.girl Tina depois de se apresentar, falou um pouco sobre o seu histórico de atuação, falou sobre as dificuldades encontradas, e das estratégias usadas para demarcar o seu espaço no hip hop local. Atuação essa que a possibilitou a desenvolver muitas oficinas em escolas e instituição, em diferentes cidades assim também como em outro país. Falou sobre a importância da profissionalização como busca da sustentabilidade, e sobre o seu trabalho com roupas para mulheres que dançam, que é uma das dificuldades encontradas por essas mulheres, a falta de roupas apropriadas para a dança com características femininas. A graffiteira Mônica Reis, trás o seu histórico de atuação, falando inicialmente sobre como atraída pelo graffite, “..eu fiquei sabendo sobre uma oficina que iria acontecer no Largo do Papagaio, sobre a mulher no graffite, e fui lá, então a partir daí comecei a treinar, inicialmente com ajuda do meu companheiro, mas depois passei a estudar traços e formas e estou aqui”. Falou também que sofre muitas discriminações no desenvolvimento de sua arte, mas consegue demarcar o seu espaço de forma muito marcante na cena do graffite local, o que já a possibilitou está integrante em um projeto desenvolvido pela prefeitura local, emprego que contribui com o sustento de seus dois filhos, e a sua saída do país para eventos internacionais. Mônica enfatiza em sua fala, a força de vontade e a importância das mulheres não esperar que seja lhe dado uma espaço, e sim que cada uma construa esse espaço a partir do que acredita.

Nas três falas algumas coisas foram bastante pertinentes, como a importância da pesquisa, de se ter uma boa referencia, a importância do incentivo a profissionalização e a busca de inserção no mercado. Itens que muito colaboraram na reflexão das mulheres que desenvolvem os elementos do hip hop em Salvador. Após as explanações, o bate-papo foi enriquecido com a participação ativa das e dos participantes. E em seguida encerramos esse primeiro dia de atividades com boa musica. 


O segundo dia de atividades, iniciado as 09h00minhs, o dia foi aberto com dinâmica para aquecimento e algumas reflexões. Às 09:30hs demos inicio ao primeiro bate-papo intitulado: “Mulher no Hip Hop, perspectivas e obstáculos: existe um caminho?”, com a colaboração de Rebeca Sobral, Vivian Silva e Dj Jarrão. Rebeca trouxe um pouco da sua experiência com o hip hop enquanto colaboradora e como esse movimento de mulheres dentro do hip hop a chamou a atenção para desenvolvimento de seu trabalho de conclusão de curso, diz que vê no hip hop “uma nova forma de fazer política”. Apresentou o seu trabalho, e enfatizou como lhe impressionou a forma que o hip hop é tratado nos Estados Unidos, país que Rebeca pode desenvolver uma parte de sua pesquisa, lá em algumas universidades o hip hop é uma disciplina em cursos de ciências políticas. Após apresentação do seu trabalho, pontuou algumas coisas que pensa ser importante nesse trajeto da mulher enquanto sujeito político no hip hop e na sociedade em geral, e da importância de desenvolvimento de mecanismos que possibilitem as mulheres a trabalhar em rede, de forma que isso seja um instrumento de quebra da ideologia machista que determina que as mulheres devem sempre está competindo entre si. Vivian Silva, membro do Núcleo de Mulheres do Hip Hop Baiano, do MNU e coordenadora regional de religião de Matriz Africana do Fórum Estadual de Juventude Negra. Trouxe um pouco de sua experiência no h2, e enfatizou a forma diferenciada de se fazer h2 na Bahia, que se tornou, de alguma forma, referencia para muitos estados, pontuando três elementos que pensa ser importante para a atuação e permanência da mulher no hip hop: estrutura, formação e parcerias.



Dj Jarrão apresenta-se e fala sobre sua experiência. Parabeniza a iniciativa do Núcleo e chama a atenção para a importância do fortalecimento da cultura através dos seus elementos. “A militância é uma arte em movimento” (Jarrão). E enfatiza alguns pontos que provocam o afastamento dos militantes do movimento hip hop: questões financeiras, infra-estrutura, a necessidade da sustentabilidade. E aponta item importante para essa permanência. O Bate-papo foi enriquecido com a participação das e dos participantes. Após o almoço, retomamos as atividades com dinâmica, intervenções. Seguimos à tarde com avaliação e encaminhamentos, onde foram traçadas algumas ações que possam servir de instrumento para a maior legitimação e potencialização das mulheres atuantes no Movimento hip Hop soteropolitano. Encerramos o seminário (ao som de Dj Jarrão), avaliando como muito produtivo e uma iniciativa de grande importância para atual conjuntura do Hip Hop baiano. Assim, os diferentes papeis desenvolvidos, as diferentes formas de comportamento e visão de mundo, proporcionaram uma releitura partindo das experiências pessoais e de grupo, o que permitiu a visualização de aspectos comuns entre as participantes. O cruzamento dessas experiências resultou em uma vivência que permitiu a reflexão e construção de ferramentas e formas que garantam a maior atuação da mulher no hip hop e legitimação dessas como importantes protagonistas na dinâmica política, social e cultural de nossa cidade. "Porque Lugar de Mulher é Também no Hip Hop".